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- 28/08/23

Redução da taxa de juros é positiva para venture capital, mas cenário ainda exige cautela

Muito se ouve dizer que a recente redução da taxa básica de juros brasileira (Selic) em 0,5%, perfazendo o atual patamar de 13,25%, traz otimismo para a indústria nacional, com mais incentivo à expansão do crédito e ao desenvolvimento da capacidade produtiva. A perspectiva também é animadora. Segundo os últimos relatórios Focus disponibilizados pelo Banco Central do Brasil (Bacen), a expectativa do mercado é que 2023 tenha resultados animadores para as terras tupiniquins: (i) IPCA próximo à meta; (ii) crescimento do PIB acima do esperado; e (ii) Selic em patamar que não se via há mais de ano. Como pode-se observar, trata-se do início de uma potencial virada de chave para a economia brasileira, que poderá se beneficiar ainda mais com a reforma tributária e a aprovação do novo arcabouço fiscal.

O cenário nacional é animador, mas se destaca do restante do globo, na medida que o Brasil parece estar um passo à frente de países desenvolvidos. Vale aqui uma breve recapitulação. No início de 2020, o mundo passou por um cenário altamente desafiador, decorrente da pandemia de Covid-19. Como consequência do fechamento de estabelecimentos e diminuição global da circulação de pessoas e mercadorias, houve um imensurável choque de oferta, com intensa desestabilização da cadeia produtiva ao nível mundial. Logo na sequência, uma vez reestabelecida a circulação de pessoas, os países passaram por um choque de demanda de proporções também inimagináveis. Consequência? Bancos centrais de todo o mundo aumentaram as taxas básicas de juros como medida para diminuir incentivo à demanda e controlar a inflação.

O Bacen, ao identificar o impacto da desestabilização da cadeia produtiva global ao nível nacional, rapidamente iniciou um procedimento cauteloso de aumento gradativo da taxa Selic a partir de 2021. Os Estados Unidos, assim como a Europa, por sua vez, tardaram mais de um ano para começar processo similar. O resultado não poderia ser outro senão a persistência da inflação por um período maior.

A demora de ação dos países desenvolvidos no controle da inflação impacta diretamente países menos desenvolvidos – com economias notoriamente fragilizadas. De acordo com dados da KPMG (2023), os Estados Unidos são a principal fonte de investimento em venture capital na América Latina. Portanto, ainda que o Brasil tenha feito a lição de casa, fato é que os últimos aumentos da taxa de juros no território norte-americano diminuíram sobremaneira os incentivos para que investidores realizem aportes em startups na América Latina. Como resultado esperado, conforme ilustra pesquisa da ABVCAP (2023), investimentos de risco no Brasil diminuíram 80% no primeiro trimestre de 2023, em relação ao mesmo período do ano passado.

Embora existam sinais de otimismo no mercado brasileiro, que além dos índices macroeconômicos citados no início do artigo, também conta com uma expectativa de retorno de Initial Public Offerings (IPOs), uma análise fria do cenário global permite concluir que o momento ainda deve ser de cautela na indústria de venture capital. “Arrumar a casa”, controlar o caixa, estar aberto a oportunidades de fusões e aquisições (M&A), bem como disposto a celebrar parcerias estratégicas, são recomendações que devem seguir na ordem do dia para as startups.

Adicionalmente, com as expectativas de novas queda da taxa Selic no Brasil, operações de emissão de dívida tornam-se mais uma alternativa a ser considerada. Para aquelas startups que não podem aguardar para financiar seus projetos de inovação, vale a pena buscar por linhas incentivadas de financiamento, aportes a fundo perdido de entidades de fomento, como a Financiadora de Estudos e Projetos do Governo Federal (FINEP) ou outros institutos de pesquisa, bem como fundos subsidiados ou financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Em suma, startups nacionais podem ter dificuldade de receber aportes de venture capital no curto prazo. No entanto, sem dúvidas, aquelas que fizerem a lição de casa e passarem pelo período de aperto financeiro, beneficiar-se-ão no médio e longo prazo. Isso porque, com a casa arrumada e a perspectiva futura mais clara, quando investimentos de risco ressurgirem, o Brasil será uma alternativa altamente recomendável frente a outras nações de porte similar.

William Nakasone, bacharel e mestre em direito pela universidade de São Paulo, doutorando em direito comercial pela mesma instituição, sócio da prática de venture capital do Abe Advogados.

Danilo Zanichelli, bacharel em direito pela universidade de São Paulo, especialista em economia brasileira pela mesma instituição, advogado associado do Abe Advogados.