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- 07/03/23

O impacto da redução da taxa de desemprego para o ambiente de investimentos em venture capital

No dia 28 de fevereiro de 2023, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua), publicou dados relacionados à taxa de desocupação da população brasileira. Os resultados são animadores. Em suma, desde março de 2021, a taxa de desocupação vem caindo em nível constante, saindo da máxima histórica de 14,9% para o atual patamar de 7,9%. Ou seja, uma redução aproximada de 47%.

A redução da taxa de desocupação tende a aumentar a renda da população. Isso porque, em um contexto de estabilidade, a diminuição da oferta de mão de obra disponível, com manutenção da demanda por este insumo, ocasiona o aumento do seu valor. Essa lógica é empiricamente observada no contexto brasileiro, onde, de acordo com o IBGE, o rendimento médio do trabalhador subiu de R$ 2.519,00 em março de 2021, para R$ 2.808,00 em dezembro de 2022, ou seja, elevação de aproximadamente 11,5%.

É interessante observar que aspectos positivos, anteriormente mencionados, aparecem em meio a uma elevação da taxa básica de juros no Brasil, que saltou de 2% em março de 2021, para quase 14% em agosto de 2022, com perspectiva constante desde então. Em outras palavras, em um cenário pós pandemia de Covid-19, a demanda reprimida por produtos e serviços era tamanha que a elevação do custo de oportunidade dos agentes econômicos não foi suficiente para gerar uma retração da economia, como verifica-se do exame do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que saiu do patamar médio aproximado de R$ 700 bilhões mensais em 2021 para R$ 800 bilhões mensais em 2022.

Muito se fala sobre os impactos da redução da taxa de desocupação para o cenário macroeconômico nacional. De fato, a discussão aqui pode estender-se incansavelmente. Todavia, pouco se tem explorado o benefício microeconômico da notícia, mais especificamente a sua relevância para o ambiente das startups e dos investimentos em venture capital.

A elevação dos juros aumenta o custo de oportunidade do investimento a ser considerado por determinado agente econômico, na medida em que o potencial retorno pretendido com o investimento de maior risco deve superar aquele a que o investidor teria acesso se tivesse alocado recursos em investimento de baixo risco (títulos da dívida). No entanto, no cenário político-econômico brasileiro, ainda que os juros estejam em níveis elevados, é possível observar que o aumento no custo de crédito não impediu a expansão da atividade econômica em nível nacional.

E o que podemos dizer sobre as repercussões desse cenário para o venture capital? Investimentos dessa natureza devem considerar perspectivas de retorno de médio e longo prazo. Por esse motivo, cabe ao investidor avaliar as perspectivas de diminuição da taxa básica de juros em âmbito nacional e internacional na ocasião do investimento. Ora, o investimento em startups em períodos de elevada taxa de juros, ou seja, de potencial baixa demanda por este tipo de aplicação financeira, fornece maior margem de negociação ao agente econômico que tenderá naturalmente a aguardar um contexto de menores taxas de juros em nível global.

Porém, no caso do venture capital, conforme mostram os dados do Venture Pulse Q4 2022 da KPMG, observamos que as captações dos fundos continuaram altas em 2022, somando globalmente o montante de US$ 251,8 bilhões (uma queda em relação a 2021, quando as captações somaram US$ 284,5 bilhões, mas ainda assim superior a 2020 e mantendo um forte volume compatível com o período pós 2018, quando as captações tiveram altas acentuadas marcando o recorde de US$ 304,1 bilhões). As captações nos EUA atingiram um recorde de US$ 162,6 bilhões em 2022, contra US$ 154,1 bilhões em 2021. Ou seja, os investidores dos fundos (também chamados limited partners) continuaram mantendo significativos percentuais de alocação nessa classe de ativo.

Somado às altas captações dos fundos, fato é que a menor taxa de desocupação da população pode colaborar para as visões otimistas de melhora do ambiente para as startups. A queda da taxa de desocupação, alinhada ao aumento do rendimento médio mensal, deve causar uma elevação na demanda por produtos e serviços em geral. Cria-se o ambiente propício para o desenvolvimento e crescimento de startups. Como consequência, ainda que o custo de crédito seja maior, a facilidade de expansão dos negócios também é maior. As startups que aproveitarem esse movimento tenderão a atrair os recursos dos fundos, que também devem ter mais apetite para realizar seus aportes em decorrência da apresentação de números melhores pelo lado das startups.

Do que observamos do dia a dia das operações de venture capital, podemos dizer que os gestores continuam cautelosos na alocação de investimentos em startups. Ouvimos bastante que 2022 foi um ano importante de correção do mercado, diante de irracionalidades que marcaram 2021. Entretanto, embora ainda de forma incipiente e longe de ser definitivo, não se pode negar que o mercado começa a dar os primeiros sinais de superação da crise que se arrasta desde 2020, com especial atenção voltada para o território brasileiro, o que pode representar boa notícia para startups e o mercado de venture capital brasileiro.

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