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- 23/10/23

Investimentos no exterior ficam mais atraentes

Desde o início deste mês, uma nova norma da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) passou a permitir que fundos de investimentos para o público geral possam aplicar todo o seu capital no exterior. A medida deve aumentar ainda mais o interesse de brasileiros por aplicações fora do país, crescente nos últimos anos.

—Com a nova regra, os fundos podem segregar cotistas em classes e subclasses, relacionando a determinados ativos, todos dentro de um mesmo fundo. A medida deve gerar uma redução de custos, pois evita a sobreposição de estruturas — explica Henrique Paslar Godinho da Silveira, advogado de Wealth Planning, do Abe Advogados.

Além de o Brasil vir atualizando normas regulatórias para facilitar a aplicação no exterior, bancos e corretoras têm tornado esse tipo de investimento mais acessível — com valores iniciais cada vez menores —, seja por plataformas brasileiras ou contas digitais globais. Com o início do ciclo de cortes na taxa básica de juros (Selic), que tende a aumentar a busca por alternativas à renda fixa, as corretoras esperam maior demanda por aplicações lá fora. Mas é importante atentar que a estratégia leva o investidor a tomar riscos de outros países num momento de tensão global.

A alta na procura dos brasileiros por investimentos lá fora começou em 2020, durante a pandemia, quando os juros no Brasil caíram a 2% e deixaram muita gente órfã dos altos ganhos da renda fixa. Papéis no exterior foram vistos como uma forma mais segura de tomar risco. Os saltos recentes das Bolsas nos EUA serviram como atrativo: o índice S&P 500, por exemplo, teve rentabilidade de 34% nos últimos três anos, embora tenha desacelerado com a alta dos juros americanos contra a inflação.

Antes disso, a instrução 555 da CVM, de 2014, permitiu que fundos para o público geral investissem até 20% do patrimônio

34% é a alta em três anos do S&P 500, que reúne as principais ações dos EUA

líquido em ativos lá fora. A medida ajudou pessoas com patrimônio inferior a R$ 1 milhão a acessar mercados de capitais estrangeiros.

Para Ian Caó, sócio na Gama Investimentos, mesmo com a Selic ainda em dois dígitos, aplicar fora do Brasil vale a pena porque o dólar é uma moeda mais forte que o real. O foco, todavia, deve ser no longo prazo. Com a mudança da CVM, a empresa dele, um hub de fundos que investem no exterior restritos a investidores qualificados (de alta renda), se prepara para alcançar um novo perfil de público.

—Até então, o entendimento (dos órgãos regulatórios) era que investimento internacional era a classe de ativos com mais risco, mas no exterior há uma infinidade de produtos —diz. —Imagina fundo que compra 100% de Treasuries (títulos do Tesouro americano). Deveria ser o fundo com menor risco do mundo, mas nossa regulação ainda vê como arriscado. A nova regra vem corrigir essa distorção.

Apesar de a tensão no Oriente Médio elevar a aversão a risco, Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, aconselha investidores a não mudarem a composição de suas carteiras por causa do conflito entre Israel e o Hamas. Para ele, o maior impacto será nas ações relacionadas ao petróleo, que deve permanecer alto em médio e longo prazos:

—A gente sempre recomendou ter uma parcela dos investimentos no exterior, em fundos, como uma estratégia de diversificação na carteira.

Morador do Rio, o engenheiro Bernardo Soares, de 37 anos, começou a investir aos 20 anos. Em 2016, decidiu diversificar com ativos estrangeiros, para diminuir o risco. Optou por um fundo, para não ter de se preocupar com a gestão do montante lá fora.

—Desde que comecei a investir fora, tive ganhos maiores que o de títulos públicos no Brasil — afirma. — Meu foco é no longo prazo. Nunca fiz nenhum resgate e faço aportes regularmente.

IMPACTO DO CONFLITO

Já o engenheiro Renato Alaby, de 35 anos, que vive em São Paulo, fez o primeiro aporte em fundos que aplicam no exterior em agosto de 2020:

—Decidi investir no exterior porque o Brasil tem uma moeda fraca, e isso reduziria o risco da minha carteira. Rendeu bem até o início da guerra na Ucrânia, depois fiquei com rentabilidade negativa. Não me preocupo muito porque pretendo deixar esse dinheiro investido até eu me aposentar.

A liberação dos BDRs (como são chamados papéis negociados no Brasil que são atrelados a ações do exterior) a pequenos investidores em 2020 ampliou as opções em aplicações lá fora. A gestora Arbor Capital, por exemplo, criou um produto em que respeita os limites fixados até pouco tempo pela CVM de investimento direto no exterior e aplica o restante em BDRs.

A estratégia para atrair é tornar mais íntimo o contato com o investidor. Se antes o acesso a gestoras era feito apenas através de bancos e corretoras, agora as dúvidas podem ser tiradas em site oficial, redes sociais e até em transmissões ao vivo diretamente com os responsáveis pela alocação do dinheiro.

O propagandista farmacêutico Pedro Freitas, de 37 anos, escolheu abrir uma dessas contas internacionais, como as usadas em viagens, para aplicar no exterior. Faz aportes disciplinados em papéis de empresas estrangeiras que considera perenes.

—O objetivo é deixar o investimento como herança para meu filho, de 6 anos, mas também é uma segurança para a minha aposentadoria, para não depender só do governo.

O C6 Bank é uma das instituições que oferecem conta de investimentos em dólar, a Global Invest, para pessoas físicas, com remessa mínima inicial de US$ 100. Pode ser aberta pelo aplicativo do banco. Na plataforma internacional, é possível acessar mutual funds (cestas de ações ou títulos geridas em fundos de investimento), Bolsas americanas e opções de renda fixa, incluindo o Time Deposit, aplicação com remuneração atrelada à taxa de juros dos EUA lançada este mês que tem resgate diário.

LIGAÇÃO DIRETA

A Nomad tem serviço similar, explica Caio Fasanella, headde Investimentos da Nomad: — Queremos democratizar o acesso a investimentos internacionais. A partir de US$ 1, o cliente já pode começar.

A XP permite abertura de conta de investimentos internacional a clientes com mais de R$ 10 mil na conta brasileira. O investimento mínimo em bonds (títulos de renda fixa) e T-notes (notas do Tesouro americano) é de US$ 5 mil. Nos fundos, de US$ 1 mil.

— Nos EUA, é possível encontrar um hub global de investimentos, estratégias e temas que não são acessíveis investindo no Brasil. Muitas vezes, essas estratégias são ainda mais rentáveis quando olhamos para renda fixa —frisa Diego Correia, head de investimentos internacionais da XP.

Clientes do Itaú podem abrir conta internacional para compras ou investimentos nos EUA por meio da parceira Avenue. Após concluir a compra do BAC Florida Bank, em 2020, o Bradesco passou a permitir o envio de recursos para os EUA em tempo real, com a funcionalidade me-to-me.

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